Eu não fui sempre assim, mas desde que tive de tomar as rédeas da minha vida, quando me tornei independente há 10 anos atrás, que me tornei um control freak. O que é que isto quer dizer? Quer dizer que tudo tem um plano, tudo é organizado e tudo é planeado. Antes de cada decisão eu penso em todos os possíveis resultados, os bons e sobretudo os maus. Percebo como lidar com os maus e como fazer as pazes com qualquer uma das consequências. Assim não há surpresas, nem desilusão, nem expectativas e consigo fugir a corações partidos.
Não me lembro de viver sem um objectivo, sem tentar correr para o próximo passo e fazer tudo para subir mais um degrau. Lido desta maneira, nem parece uma coisa má, parece apenas ambição, daquela que faz bem. O problema é quando subimos o degrau e não damos espaço para nos sentirmos felizes, quando chegamos lá e já só pensamos no próximo degrau. Quando a nossa vida passa a ser vivida no possível futuro e não no presente. Quando a gestão de expectativas e do futuro nos deixa tão exaustos que damos por nós a fazer micro gestão. Quando enquanto estou com amigos, a minha cabeça viaja e planeia as próximas 5 coisas que tenho para fazer e fica obcecada com a melhor maneira de as fazer.
Eu cheguei a este ponto há 2 anos atrás, quando a vontade de partir o telemóvel cada vez que ele tocava se tornou tão grande que quase o mandei contra a parede. Na altura, descobri as maravilhas da meditação e percebi que os pensamentos não podem correr uns por cima dos outros, que é suposto acontecerem um de cada vez, com tempo de vida. O melhor exemplo que li é que temos de encarar a nossa cabeça como um rio lento onde, um a um, os pensamentos bóiam em fila, sem pressas. Quando assim o é, tudo é mais calmo e tranquilo. Deixei de ter ataques de raiva e fúria com tudo e nada. Consegui passar a aproveitar mais o presente, os meus amigos, o meu cão e o meu namorado.
As coisas pequenas ficaram resolvidas mas ainda estou a aprender a lidar com as coisas maiores. Neste momento não tenho um plano detalhado e traçado para o que quero fazer com a minha vida profissional. A única certeza é saber que quero continuar aqui, no WBY, a trabalhar lado a lado com a Raquel e a partilhar um pouco de mim convosco. No entanto, ainda não há um plano definido para o que quero que o WBY seja e em que direcção quero que ele se mova. Isso deixa-me em pânico, o medo de falhar deixa-me em pânico (daqueles com palpitações e tudo). Por outro lado, é preciso tempo para se definir objectivos concretos e desenhar um plano de ataque. Para crescer é preciso apanhar balanço, é preciso respirar fundo e não viver com medo.
Fazer planos para a vida com um aperto no estômago não é opção. Como tal, estou a tentar viver de sorriso na cara e ignorar o facto de estar a navegar à deriva. Estou a tentar aproveitar o mar imenso que me rodeia, absorver a sua calmaria para mais tarde decidir que direcção remar. Fazer as pazes com a noção de que não é possível controlar tudo na vida é mesmo difícil mas muito gratificante. Hoje, quando chegarem a casa do trabalho, não pensem muito e aproveitem a primeira hora para abraçar aqueles de que gostam e aproveitar em pleno, sem pensar em mais nada, o que a vida vos dá.
Obrigado por me lerem.