Quando era miúdo, nunca consegui responder à clássica pergunta “O que queres ser quando fores grande?”. A resposta dependia de quem fazia a pergunta, eu queria que aquela pessoa ficásse feliz, mesmo que a minha resposta não fosse uma certeza. Eu gostava de fazer tantas coisas e as possibilidades eram tantas que me parecia parvo ter de tomar uma decisão.
Com o passar dos anos, isso não mudou muito. Eu estava inscrito em todas as actividades extracurriculares, do badminton ao clube de matemática. Eu gostava de tudo, eu queria fazer tudo. No 8º ano ganhei um concurso de desenho grande e isso levou-me a escolher artes no secundário, não porque sabia que artes era a área onde queria estar o resto da vida mas porque achei que havia espaço para ser bem sucedido.
No secundário, decidi que queria estudar design gráfico duas semanas antes de ter de entregar a candidatura. Tudo porque vi uma apresentação do curso que escolhi e achei que era capaz de fazer trabalhos melhores do que aqueles que mostraram (é o narcisismo de qualquer pessoa de 18 anos a falar mais alto). Durante o curso, quando percebi que tinha tomado uma decisão para a vida (ou eu achava que sim), entrei em pânico pela primeira vez. Achava que o curso era fútil e que não queria passar o resto da vida a vender coisas. A pergunta que mais me fazia era, “que bem é que estou a trazer ao mundo? Qual é o meu contributo?”. Durante esse período, como não queria recomeçar a faculdade, enterrei estas perguntas e distraí-me inscrevendo-me em mais cadeiras de fotografia e tentando fazer trabalho de design para associações, onde sentia que o meu trabalho poderia fazer diferença.

Quando comecei a trabalhar, na área esta pergunta voltou e agora não ia embora. Na empresa onde eu e a Raquel trabalhávamos, os nossos dias preenchiam-se com campanhas políticas (com ideiais que nada tinham de ver com os nossos), folhetos de hipermercados e manuais internos de empresas gigantescas. Como devem imaginar, isto não ajudou de todo a minha crise profissional. Se ser designer era isto, então eu não o queria ser. Eu gostava do trabalho do dia-a-dia mas os valores estavam todos trocados.
Quando eu e a Raquel decidimos levar o We Blog You a sério, fizemos uma lista de coisas que odiávamos na empresa onde trabalhávamos. Isto ajudou a moldar os valores do projecto. Queríamos trabalhar com negócios pequenos, queríamos tratar os nossos clientes por tu e queríamos sentir que o nosso trabalho era valorizado e que tinha impacto na vida dos envolvidos. Foi com o We Blog You que eu percebi que o que eu faço não tem de ser fútil. Quando passámos a ser o Fred e a Raquel e os nossos clientes passaram a ter caras e emoções, tudo mudou. Os clientes, vocês, confiavam em nós e percebiam que o nosso trabalho é bem mais vasto e complexo do que fazer algo que seja apenas bonito. A nossa missão é ajudar todos os nossos clientes a dar forma aos seus sonhos, ajudá-los a definir estratégias que os levem ao sucesso e dar-vos ferramentas para que se torne sustentável.

Eu já não tenho mãos suficientes para contar a quantidade de projectos que vimos começar do nada e que se tornaram em coisas muito bonitas. Durante este processo, percebi que o que me enche as medidas não é o design, a fotografia ou qualquer outra das mil coisas que faço. O que me deixa realmente concretizado é ajudar os outros a serem felizes. Percebi que a minha vocação não é a minha profissão e que as minhas profissões são só meios para atingir este fim, ajudar pessoas a serem felizes. Acredito mesmo que precisamos de começar a distinguir vocação de profissão e perceber que é possível seguirmos a nossa vocação em qualquer profissão. Eu e a Raquel éramos designers quando trabalhávamos na empresa onde nos encontrámos e continuamos a ser designers agora, o que mudou é que estamos mais próximos das nossas vocações.
Eu continuo a não saber o que quero ser quando for grande e continuo a querer deixar as pessoas que me fazem esta pergunta felizes, mas sei que seja qual for o caminho que tomar, vou continuar a correr atrás da minha vocação, deixar-vos felizes.
E vocês, já encontraram a vocação? Também acham que vocação e profissão são duas coisas diferentes? Contem-me tudo.